Lápides Tumulares - sepulcrais memórias do cemitério São João Batista do Apodi
por Marcos Pinto.
O nosso vetusto
e venerado Cemitério São João Batista
do Apodi é guardião de vasto
referencial histórico e cronológico,
amalgamado nas antigas lápides tumulares,
feitas em mármores de alta qualidade,
confeccionadas em plagas distantes. Analisando
documentos oficiais irrefutáveis, restou-nos a
certeza de que, mesmo após a construção
do nosso antigo Cemitério São João
Batista no ano de 1860, os sepultamentos
dos munícipes continuaram sendo feitos na
Igreja-Matriz e no entorno do antigo
Cruzeiro-Mór.
A ritualidade dos
sepultamentos realizados no interior das
Igrejas-Matrizes obedeciam a um rigoroso
critério social estipulado pela Igreja
Católica Apostólica Romana, que estabelecia
diferença quanto ao local do sepultamento,
configurando as famílias como tradicionais
plenamente abastadas e as tradicionais
menos abastadas. As pessoas eram sepultadas
dentro da Igreja-Matriz, tanto no solo
quanto nas grossas paredes, seguindo
duas modalidades de localização: Das
grades para cima e das grades para
baixo. Das grades acima compreendia a
parte que fica da metade da
Igreja-Matriz até o Altar-Mór, com o
pagamento de taxa muito elevada para
o competente sepultamento, o que conferia
ao defunto uma conotação de nobreza e
tradicionalidade. Das grades abaixo compreendia
a parte da porta de entrada até
o meio da Igreja-Matriz, com a
cobrança de sepultamento cerca de quatro vezes
menos do que era pago para sepultar
das grades acima.
Quando o profícuo
e devotado Padre Faustino Gomes de
Oliveira mandou construir o Cruzeiro-Mór em
1855, concluído em 1856 por seu sucessor
e parente o Sacerdote Florêncio Gomes
de Oliveira, os sepultamentos das pessoas de
famílias humildes passaram a ser feitos
no entorno do Cruzeiro-Mór. No Século
XVI estava já bastante generalizada a
prática do sepultamento em templos religiosos
- Capelas e Igrejas-Matrizes.
Há uma
contextualidade histórica impressionante nas
antigas lápides do nosso antigo Cemitério
São João Batista. Ao visualizá-las, sentimos
que elas nos remetem ao sentido das
coisas e da vida. Há como que
uma emoção contemplativa que suscita
êxtase, perplexidade e encantos. Despertam um vôo
mental que nos permite dimensionar o
nosso lugar no universo da ascensão
espiritual. A inscrição lapidar "AQUI
JAZ" nos conduz à reflexões
interrogativas acerca da existencialidade
espiritual, ao liame, o vínculo eterno de
amor entre DEUS e a criação. As
nossas lápides apresentam um manancial
histórico-cronológico de relevante importância
para os estudiosos da genealogia. As
referências às datas de nascimento e
falecimento suprem a inexistência de
fontes documentais oficiais, extraviados ou
consumidos pelas intempéries. Não fora a
existência dessas memoráveis lápides, teríamos
lamentáveis hiatos cronológicos nas biografias
dos homens e mulheres que fizeram a
história do nosso município de Apodi.
A lápide mais
antiga existente no Cemitério São João
Batista é a que está afixada ao
primeiro túmulo construído, onde está sepultado
o segundo mais antigo Professor de
Apodi JOAQUIM MANOEL CARNEIRO DA CUNHA
BELTRÃO, cujo epitáfio tem a seguinte
inscrição: Aqui jaz o Professor Joaquim
Manoel Carneiro da Cunha Beltrão, natural
da Freguesia de Tracunhaém, Província de
Pernambuco. Nasceu no ano de 1811 e
faleceu em Apody a 20 de Novembro
de 1892.
Em termos de
antiguidade, sobressai-se como segunda a do
túmulo do Coronel Antonio Ferreira Pinto,
falecido a 09 de Agosto de 1909. A
terceira e a quarta estão afixadas,
respectivamente, nos túmulos do Coronel João
Jázimo de Oliveira Pinto , (irmão de
Claudina Pinto) falecido a 30 de
Março de 1927, e do Coronel João de
Brito Ferreira Pinto, falecido a 15 de
Setembro de 1934. Temos, ainda, a quinta
lápide mais antiga, afixada no túmulo do
patriarca da honrada e tradicional família BARRA
o Sr. JOSÉ RAIMUNDO DE SOUZA BARRA, do
antigo povoado denominado de "Pedra
das Abelhas", atual cidade de Felipe
Guerra-RN, que nasceu a 24 de Agosto
de 1838, e faleceu a 26 de Março
de 1934, aos 95 anos de idade.
Conclamo o Sr.
Prefeito e Professor de História Flaviano
Monteiro a determinar ao Secretário
competente para que realize serviços de
mapeamento e cadastro de todos os
túmulos existentes no Cemitério São João
Batista, evitando assim que ocorram
vilipêndios e profanações aos túmulos,
posto que está existindo esses atentados
cometidos por alguns dos construtores de
túmulos.
Esses antigos
túmulos constituem patrimônio histórico, que
significa Memória e Identidade Cultural.
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