Mais da metade dos alunos do 3º ano do ensino fundamental são analfabetos funcionais, diz pesquisa - 25/06/2013 18:24:14
Mais da metade (55,4%) dos alunos do 3º ano do ensino fundamental no
país não leem e interpretam um texto de forma correta, segundo
informações da 2ª Avaliação Brasileira do Final do Ciclo de
Alfabetização, a Prova ABC, divulgada hoje (25) pelo movimento Todos
pela Educação. Os dados mostram que 44,5% dos estudantes atingiram
pontuação acima do nível 175, que indica proficiência adequada em
leitura. O 3º ano é a série considerada limite para a alfabetização,
segundo o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (Pnaic).
A avaliação, que segue a escala do Sistema de Avaliação da Educação
Básica (Saeb), foi aplicada no final de 2012 e teve a participação de 54
mil alunos de 1.200 escolas públicas e privadas distribuídas em 600
municípios brasileiros. Metade da amostra é composta por alunos do 2º
ano do ensino fundamental e o restante por estudantes do 3º ano. Além da
proficiência em leitura, a pesquisa testou também habilidades em
escrita e matemática. A Prova ABC é uma parceria do Todos pela Educação
com a Fundação Cesgranrio, o Instituto Paulo Montenegro e o Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
"Ainda estamos abaixo dos 50% em leitura, escrita e matemática em
relação a todas as crianças que precisam e têm o direito de ter essas
competências básicas nos três primeiros anos do ensino fundamental",
avaliou Priscila Cruz, diretora executiva do Todos pela Educação. Ela
diz que essa deficiência na etapa inicial compromete o aprendizado das
crianças nos anos seguintes. "O foco nesses primeiros anos é estratégico
para a gente garantir o direito ao aprendizado mais na frente. Se a
gente não consegue corrigir isso no berço do problema, a gente não vai
conseguir avançar na educação".
Na comparação por região, o quesito leitura teve pior resultado na
Região Norte, onde 27,3% dos alunos do 3º ano tiveram avaliação acima de
175 pontos. Ao atingir essa pontuação, os estudantes conseguem
identificar temas de uma narrativa, localizar informações explícitas,
identificar características de personagens em textos e perceber relações
de causa e efeito contidas nessas narrativas. A maior parte dos alunos
dessa região (40,9%) não alcançou 125 pontos.
O Nordeste (30,7%) também apresentou resultado de proficiência adequada
em leitura abaixo da média nacional. Mais de um terço dos nordestinos
(38,4%) fez menos de 125 pontos. O melhor percentual foi verificado no
Sudeste (56,5%), seguido pelo Sul (51,2%) e Centro-Oeste (47,8%). O
Todos Pela Educação destaca que, ao obter o nível adequado de
proficiência, mais do que aprender a ler, os alunos demonstram que têm
condições de ler para seguir aprendendo nos anos seguintes.
As diferenças entre os estados nesse item são ainda maiores. São Paulo
(60,1%), Minas Gerais (59,1%) e Distrito Federal (55%) apresentam o
maior percentual de alunos que atingiram mais de 175 pontos em leitura.
Os piores resultados, por outro lado, foram registrados em Alagoas
(21,7%), Pará (22,2%) e Amapá (22,8%). Em Alagoas, mais da metade
(50,6%) dos alunos não atingiu 125 pontos.
Para Priscila, esses resultados apontam que as políticas públicas em
educação devem estar voltadas com mais vigor para as regiões Norte e
Nordeste. "Temos que dar mais para quem tem menos. São regiões que
precisam ter mais recursos, mais monitoramento, mais apoio técnico e
políticas específicas também. Temos que superar uma fase de que o mesmo
remédio serve para tudo. Só assim vamos conseguir qualidade com mais
equidade também", propôs.
Para avaliar as habilidades em escrita, alunos que participaram da Prova
ABC fizeram também uma redação. Com uma escala de 0 a 100 pontos, a
correção avaliou três competências: adequação ao tema e ao gênero;
coesão e coerência; e registro, que inclui grafia das palavras,
adequação às normas gramaticais, segmentação de palavras e pontuação.
Apenas 30,1% dos alunos do país apresentaram o desempenho esperado, que é
acima de 75 pontos.
A diretora executiva avalia que a disparidade de resultados entre o
quesito leitura e escrita revela uma maior ênfase, por parte das
escolas, no letramento. "O ensino está mais voltado para a leitura,
interpretação do que para a escrita. A gente precisa correr atrás disso.
O ler para aprender inclui essa escrita para aprender também. Se a
gente não tiver a criança plenamente capaz e autônoma nessa parte
básica, ela também tem dificuldade de aprender outros conhecimentos",
diz.
Entre as regiões, o Sudeste (38,8%) também apresentou o melhor resultado
no item escrita, seguido pelo Centro-Oeste (36,2%) e pela Região Sul
(36%). Norte (16,1%) e Nordeste (18,9%) ficaram novamente abaixo da
média nacional. Nessas duas regiões, a maioria dos estudantes não
alcançou 50 pontos: 58,1%, no Norte e 55,5%, no Nordeste. Os estados com
maior percentual foram Goiás (42%), Minas Gerais (41,6%) e São Paulo
(39,3%).
O Todos pela Educação monitora cinco metas relacionada à educação que
foram definidas pelo movimento para serem alcançadas até 2022. A Prova
ABC avalia a meta de número 2, pela qual toda criança deve estar
plenamente alfabetizada até os 8 anos. De acordo com a organização, essa
será a última edição da prova, pois o Ministério da Educação adotará um
instrumento próprio, a Avaliação Nacional da Alfabetização (Ana), para
monitorar esses resultados.
Fonte:
Agência Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário