Uma bicicleta, uma mochila nas costas e 100 livros
transformam jovens do Rio Grande do Norte em bibliotecas móveis. O
projeto Agentes de Leitura, desenvolvido pelo Governo do Estado,
selecionou jovens para levar a 41 cidades o hábito da leitura. Mais de
400 agentes circulam entre as zonas urbana e rural do Estado contando
histórias e apresentando as obras para mais de 15 mil famílias. Criado
pelo Ministério da Cultura há quatro anos, o programa faz parte do Mais
Cultura e, apesar de previsto para todo o Brasil, ainda não entrou em
prática em todos os Estados.
Com uma abordagem lúdica, que envolve brincadeiras,
saraus, adivinhações e versos, os agentes introduzem as áreas menos
desenvolvidas do Rio Grande do Norte a livros infantis, lendas e
clássicos como Manuel Bandeira e o potiguar Câmara Cascudo. Para
participar do projeto, foram selecionadas famílias beneficiadas pelo
Bolsa Família que moram nos municípios com os menores Índices de
Desenvolvimento Humano.
O programa Agentes de Leitura foi lançado no dia 12 de
dezembro de 2012. Desde 2009, no entanto, o Rio Grande do Norte já vinha
organizando o projeto. Em 2011, o Estado selecionou os 41 municípios
participantes e, em um segundo momento, escolheu 550 jovens para atuar
como agentes - destes, alguns desistiram, restando 402. Como
pré-requisito, os agentes deveriam ter entre 18 e 29 anos e já terem
concluído o ensino médio. No último mês de maio, o projeto foi posto em
prática. A receptividade da população foi bastante boa, acredita Márcio
Farias, diretor da Biblioteca Pública Câmara Cascudo e coordenador do
projeto.
Farias conta que cidades que tiveram problemas com
relação ao envio do acervo de livros - situação já normalizada, afirma -
receberam cobrança dos moradores que esperavam pelos agentes.
Os agentes de leitura passaram por uma série de oficinas
realizada durante uma semana para capacitá-los a atuar no projeto.
Geruza Câmara, que trabalhou como formadora dos agentes, afirma que o
principal cuidado nesse processo de capacitação foi orientar os jovens a
abordar as famílias com simpatia e contar as histórias com a entonação
adequada.
Alexandre Silva estuda ciências da religião na
Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN) e trabalha com
oficinas de teatro. Sua experiência com interpretação foi fundamental
para uma boa postura vocal e corporal, necessárias para a leitura. Silva
circula entre a cidade e a zona rural de Macaíba, região metropolitana
de Natal, e troca livros com agentes da capital para variar o acervo.
Para exercer esta atividade por um ano, os agentes
recebem uma bolsa-auxílio mensal no valor de R$ 350. O pagamento, no
entanto, não está acontecendo. Farias explica que a razão é um entrave
burocrático relacionado à documentação dos bolsistas, que não está
regularizada. Em páginas no Facebook, os alunos manifestam sua
insatisfação e uma greve chegou a ser programada. Silva diz que a falta
de remuneração desmotiva muitos dos colegas. Por outro lado, aponta o
aprendizado das crianças como recompensa maior. “Há uma menina que
sempre me pede para emprestar um livro quando passo em frente à sua
escola. Já ando sempre com eles na mochila”.
Fonte: Terra
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