Rio de Janeiro encerra viagem pelo Brasil com experiências educacionais diversas
O Rio de Janeiro foi a última cidade da viagem pelo Brasil. Nestes
cinco meses de estrada, passei por quase sessenta cidades e conheci mais
de trinta escolas, práticas educacionais e histórias de pessoas que nos
inspiram e ensinam muito para a Educação do país.
As práticas que encontrei na capital fluminense resumem parte do que vi durante o caindonobrasil e
ajudam a encerrar um ciclo de mapeamento de práticas educacionais
inspiradoras desta viagem. Neste post, contarei sobre algumas delas.
Escola Sesc
No Rio, conheci a Escola Sesc.
Iniciativa do Serviço Social do Comércio é uma escola-residência
genuinamente brasileira. No processo seletivo, busca-se contemplar
alunos de todo o país, também levando em conta gênero e renda. Mais da
metade dos estudantes têm renda familiar entre um e três salários
mínimos. Nas salas de aula, que têm apenas quinze alunos e isto permite
dedicar mais atenção para cada estudante. A pesquisa torna-se um
princípio pedagógico muito importante. “É preciso trabalhar com a
investigação. Este trabalho tem que ser uma maneira do aluno se
construir como ser humano no mundo”, explicou a coordenadora pedagógica
Inês Paz.
Na escola, o aprendizado acontece dentro e fora da sala de aula, uma
vez que tanto alunos quanto professores moram no campus. Além do
currículo tradicional, as aulas extras e a vivência permanente,
convergem paras formar cidadãos com habilidades e competências
demandadas pela sociedade e pelo mercado de trabalho, como
responsabilidade, autonomia, trabalho em equipe, diálogo e visão ampla
de mundo. Estes valores são encontrados em vários outros projetos de
sucesso pelo Brasil. Conheci a escola por uma dica do aluno Daniel
Lopes, que está no terceiro ano do Ensino Médio. Filho de cozinheira e
comerciante, saiu de Londrina para estudar na Escola Sesc. “Era uma
oportunidade única. Isso mudou minha vida”, contou. Hoje, fala com a
consciência de um adulto e é envolvido em vários projetos para melhorar
sua Educação e o aprendizado de outros jovens do país.
A praça do Complexo Alemão
Na
Praça do Conhecimento, um espaço criado pela Prefeitura do Rio de
Janeiro para fomentar conhecimento e cultura no Complexo do Alemão, pude
conhecer um exemplo de investimento público em espaços em que o Governo
pouco atua.
“Costumo dizer que a Praça é uma casa de diálogo”, conta Luiz Lima. Ele coordena os cursos profissionalizantes e oficinas para a comunidade. Além de formar profissionais para o mercado de trabalho, há um movimento muito interessante de recuperação da história da comunidade.
“Costumo dizer que a Praça é uma casa de diálogo”, conta Luiz Lima. Ele coordena os cursos profissionalizantes e oficinas para a comunidade. Além de formar profissionais para o mercado de trabalho, há um movimento muito interessante de recuperação da história da comunidade.
Felipe Fonseca, um dos educadores da Praça, contou que conheceu mais a
história do Complexo do Alemão dando aulas. Sua família está na
comunidade há três gerações e ele descobriu apenas este ano que existe
um hino do Alemão. Além disso, Felipe conta que em razão de as aulas
serem metade conteúdo e metade escutar histórias, ele aprendeu a se
relacionar melhor com as pessoas ao seu redor. Na viagem, vi que é
preciso integrar a realidade dos estudantes no processo e estabelecer
canais de diálogo entre todos os atores envolvidos.
Adultos também podem aprender
No Rio, também conheci Cloves, um taxista nascido em uma cidade que
beira a estrada no interior do Maranhão. Ele estudou apenas até a
segunda série do Ensino Fundamental porque precisava sustentar a
família.
Hoje, está cursando o Ensino de Jovens e Adultos e sempre tira 10 em
Matemática. Quer ser engenheiro e já está se inscrevendo em um curso de
informática. Conheci muitos “Cloves” pelo caminho: filhos de pais de
origem simples e muitas vezes analfabetos, a vida difícil nos interiores
do país os obrigou a interromper os estudos. Atualmente, muitos
conseguem retomar os estudos e vários conseguem entrar na universidade.
Também encontrei vários jovens que foram os primeiros da família (ou da
comunidade, como a Dayse a entrar na universidade. Atualmente, eles representam 33% dos universitários brasileiros.
Educação fora da escola
Além disso, vivenciei diversas vezes as trocas informais de
conhecimento, um tema que está cada vez mais em voga na Educação. O
educador Tião Rocha, criador do CPCD,
costuma dizer que escola é diferente de Educação. A escola é um meio;
Educação é o fim. Todo lugar é lugar de se aprender, inclusive na
escola.
Durante a viagem, pude constatar isso nos projetos, histórias de
pessoas e conversas de que participei. No Rio de Janeiro, também houve
muita troca de conhecimentos e construções coletivas em espaços comuns.
Na viagem, conheci um projeto que busca promover espaços de trocas de conhecimentos na cozinha, enquanto é realizado um workshop sobre comida mineira.
O escritor moçambicano Mia Couto disse em um bate-papo em São Paulo que
começou a ser escritor na cozinha, observando sua mãe e as amigas
contarem histórias (“Elas tinham a capacidade de converter histórias em
palavras”, contou o escritor”. Estes são exemplos de que espaços
informais de aprendizado também existem e precisam ser aproveitados no
processo educativo.
Próximos passos
Agora, é hora de analisar tudo que vi e continuar compartilhando este
conhecimento, formando redes e buscando construir iniciativas para
potencializar as práticas educativas que o Brasil tem de melhor. A
viagem termina, mas o projeto continua. Estou começando a escrever um
livro sobre algumas das iniciativas e histórias mais interessantes que
conheci nesta viagem, realizarei palestras em algumas cidades do Brasil
(aproveitando para também conhecer as realidades e práticas educacionais
inspiradoras) e desenvolverei uma série de projetos envolvendo
Educação, Comunicação e Tecnologia.
Fonte:escolasdobrasil.
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